quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Passados três meses...

Achei que fosse começar a escrever depois do primeiro vômito. Foi marcante o episódio para mim; uma confirmação de um estado gravídico, com tudo o que esta palavra nos remete. rs
Foram vários pequenos episódios que foram se dando por dentro e por fora e me colocando em outro eixo gravitacional.
Gravidez pode parecer a coisa mais natural do mundo, mas não muito no mundo que a gente está... Todo mundo, hoje, se sente quase um louco por colocar alguém a mais nesse mundo confuso, desigual, poluído, violento.
Outros fazem cara de espanto, pouco disfarçada, imaginando (ou parecendo imaginar) tamanha coragem ou ousadia ou mesmo irresponsabilidade daquelas pessoas que se disponham a procriar. Parece um depoimento frio, mas não, de forma alguma poderia dizer que sou ou estou fria diante deste novo estado que é um puro devir... como gostam de palavrear os deleuzianos.
Estou acordada e devo estar... o tempo está passando e preciso me haver com as minhas angústias, culpas, medos, esperanças e desejos para conhecer de olhos abertos o que está por vir. Este(a) filho(a) é um desejo que se externou de forma abrupta e já paga comigo (companheiro(a) que só) a conta da minha inconsciência. A falta de coragem de desapegar, escancarar e bancar, para mim mesma ou para outrens o que é mesmo que me importa nesta vida.
Entre descidas e subidas desta caminhada seria impossível para mim, não enxergar o que realmente importa. Posso ter é muita preguiça.
É, acho que o ácido fólico tomado nos três primeiros meses ajudou a formar alguma consciência dos constantes mal-estares.

Ficar grávida é...

Ir para uma toca, uma toca bem funda dentro da gente e tentar acordar um leão, uma leoa que esteja pronta para ir à luta, caçar comida para seus filhotes; ou ir se transformando num pássaro meticuloso que vai de graveto em graveto, pulinho a pulinho, averiguando os melhores materias para se construir um ninho.
Ficar grávida é literalmente virar bicho. Foi e é o que ando sentindo de momento a momento... em cada sensação desta gestação.
Tudo o que é muito romântico ou idealizado me foge para descrever os sentimentos da minha gravidez.
Fiquei ávida, sensível ao todo, a todo mundo e a tudo e sem medo de ser... (Chata!?)
Com todos os instintos... todos eles aguçados, avante. Algo, enfim, me toma e me faz coadvante. Sou simplesmente parte de um processo da natureza, desse corpo, de um outro corpo que precisa se instalar a este e causa um redemoinho de sensações que me voltam para o estado em si. Nem tenho como mergulhar em neuroses.
Por isto engravidar é encorujar... Encasular serviria também.
Não digo que não tenho ternura, graça e palavras mimosas para falar de crianças, de bebês ou da beleza de uma gravidez, mas nesse momento, mais que qualquer outro sentimento ou percepção, o que me invade são os sentidos menos sutis, os instintos e sentimentos mais vicerais...
É algo verdadeiramente estranho. Com aquela conotação de estranho que é o completamente desconhecido mesmo...
Não estranhe se for assim com você também.